segunda-feira, 20 de julho de 2015

O que sinto por você é:



Frágil como pétala
De aço.

Doce como brigadeiro
De pimenta.

Banal como oxigênio
No espaço.

Neutro como o preto
E amarelo, ciano e magenta.



Infértil como o Saara
À beira do Nilo.

Como a Caatinga
Para o São Francisco.

Insípido como nozes
Para esquilo.

Sem sal como um copo
De Arisco.



Inútil como um aleijado
No Parapan.

Lindo como um genocídio
De Picasso, Guernica.

Ardente como água...
Aguardente de hortelã.

Apetitoso como maconha,
Larica, larica...



Perfeito como Hitler
Morto.

Gelado como um espeto
No churrasco.

Desértico como um quarteirão
No horto.

Indiferente como um jogo
Do Vasco.



Frio como gelo
A 500 graus.

Triste como o pierrot
Antes da folia.

Ultrapassado como valsa
De Strauss.

Complicado como escrever
Poesia.

por Flavio Araújo

domingo, 2 de novembro de 2008

Canto

Este é um canto triste
Acompanhado pelo bater do mar
Onde as ondas falham
Como o coração.


Este é um canto duro
Desamparado e só
Que chega ao alto dos prédios velhos
Da violenta cidade ao redor.


Um canto trôpego
Envolvido em álcool
Delirante, um canto insano
Que fala de melancolia.


Este é um canto exausto
Rouco, frágil, quase inaudível
Que suplica atenção a surdos
Pouco antes de morrer na garganta.


Um canto que não encanta
Que não afaga ou comove
Um canto que não se canta
Não se canta, se chora.

Por Flavio Araujo

sábado, 25 de outubro de 2008

Princesa

Da falta de tempo
Da falta de beijo
Da falta de abraço
Do meu coração

Da falta que faz falta
Da falta às vezes
Maior que a presença
Da falta presente

Vou seguir o asfalto
Imaginando ir
Ao seu encontro
Cuide-se também

E telefone
Para que a voz
Seja a atriz que
Representa seu corpo
Junto ao meu.

Por Flavio Araujo

sábado, 18 de agosto de 2007

Íntimos


Para seu dia ser lindo


Íntimos somos, sem roupas e pudores
Dois amores feitos de carne, suor e gemidos
Espremidos um no outro, como se naquele

Instante, pudéssemos virar um só.
Como se o nó que nos ata não fosse frágil,
Frouxo pelas obrigações, medos e dúvidas do dia-a-dia.

Íntimos são nossos sorrisos e nossas lágrimas,
Conquista maior que teu corpo lindo.
Íntimas as conversas e até o que nunca é dito.
Íntimas as famílias, mesmo que elas não saibam.
Íntimos os amigos e inimigos.

Na intimidade de tudo que é teu,
quero espalhar tudo que tenho
de mais íntimo em mim:
O meu amor!

Flávio Araujo, 3/5/2007 11:18:19




CRUZ

Em mim


Que não se entrega.
À qual o destino me prega
Mãos, pés e outras pendências.
Que desgarrega
O que trago de bom
E ruim em mim.
Cruz que inspira
Que dá lágrimas e sorrisos,
Que, insisto, não pode ser cruz, duas retas,
Mas quatro, quadrado perfeito.
Cruz que afaga e desampara.
Que ilude e ilumina.
Cruz menina e mulher cruz
Tão carente e tão luz,
Independente.
Tão minha e tão de ninguém.
Tão broto e tão árvore de outono.
Realmente só, por opção, uma cruz.
Sofrendo no alto da favela, só ela,
A mirar as desgraças do mundo,
Mas para a qual convergem
Sonhos, anseios, orações e desejos.

Flávio Araujo, 2/4/2007 13:01:26

Todo dia, toda hora...

Sempre

Todo dia, toda hora...
Porque assim se faz um romance
Todo dia, toda hora...
Porque desejo não tem relógio
Todo dia, toda hora...
Amor desconhece cartão-de-ponto
Todo dia, toda hora...
Porque acredito em felicidade
Todo dia, toda hora...
Porque não temo, sou coragem e coração
Todo dia, toda hora...
Sou ouvidos imensos, conselhos e carinhos
Todo dia, toda hora...
Porque não quero alguém com 16 anos
Todo dia, toda hora...
Porque amo acima de tudo a mim mesmo
Todo dia, toda hora...
E sei que mereço
Todo dia, toda hora...
Sobreviverei às injustiças
Todo dia, toda hora...
De pagar por penas alheias
Todo dia, toda hora...
De ouvir asneiras
Todo dia, toda hora...
De ser julgado pelo que não fiz
Todo dia, toda hora...
Para justificar suas inseguranças
Todo dia, toda hora...
Nunca esquecerei como foi bom
Todo dia, toda hora...
Vou me bastar e, tenho certeza,
Todo dia, toda hora...
Você vai sentir muito mais a minha falta...
Todo dia, toda hora...
Do que eu a sua...


Flávio Araujo , 25 Jul 2007 13:55:24

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Inesquecíveis...


... sigo condenado a lembrar de ti entre cigarro, cerveja, imbecis e sonhos...

Teus dedos longos
Tuas lágrimas e teu sorriso
Teus hiatos e ditongos
Teu "eu preciso".

Teus gemidos e gritos
Repetidos, gemidos e gritos
Gritos e gemidos
Gemidos e gritos.

Tuas dúvidas
Únicas, débeis e tão importantes
Tuas súplicas
Únicas, estéreis e tão distantes.

Tu, de costas, nua
Esperando o abraço
E alcançar o cansaço
Supremo, depois de rodar ruas.

O beijo, em meio ou ao fim
Do desejo, do anseio, enfim
Do que somos, do que apenas somos
Nas poucas horas que estás em mim.


Flavio Araujo

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Às vezes



Desabafo

Às vezes é tão difícil de entender
A distância de tuas palavras
Com a proximidade de teus gemidos.

Às vezes, é incompreensível
Frieza e gozo
Separação e calor.

Às vezes, me surpreendo assustado
E penso que talvez eu não seja suficiente, merecedor, completo...

Às vezes, me surpreendo todo de mim
E penso que talvez eu seja o que de melhor poderia te acontecer...

E segue o mundo insano, não às vezes.
A rotina estafante, nunca às vezes.
E as dúvidas minando tudo, não às vezes
E os medos inúteis disfarçados, apelidados de atitudes adultas, nunca às vezes.


Flávio Araújo

O último aqui

Você

Você é reserva ecológica
Raciocínio sem lógica
Um passe de mágica
Você é assim

Você é barra de chocolate
E copo gelado de mate
Corpo que se debate
Sobre mim

Você é lua brilhante
Tá bom, até diamante
Que passa adiante
Do meu fim

Você é rica em espasmos
Coleção de orgasmos
Que espanta o marasmo
Assim, assim

Você que se faz de durona
Fria, de chefe mandona
É menina na poltrona
E na cama, enfim.

Flávio Araujo, quinta-feira, 15 de março de 2007 15:32:18


Perdão

Micróbio que escreve

Perdão, querida, linda!
Aquela redoma que tu queres pôr em volta dos teus
Tenho uma para ti!

É feita de choro cristalizado,
Sorrisos às gargalhadas e
Rosas vermelhas frescas.

Sei que me esforço cada vez mais
Para te perder
Só peço que entendas que, atrapalhado,
Faço pra te conquistar:
Um Dom Juan às avessas.


Perdão, mais uma vez,
Querida, linda!
Compreende esse coração,
tão triste com coisas pequenas
Tão incapaz de atos realmente generosos e corajosos
Tão fútil e descabido
Mas também, tão teu...

Flávio Araujo